Sunday, November 12, 2006

Sentidos expressos nas palavras. Um relato missivo, de curtos momentos e esparsos pensamentos do cotidiano. Redigidos como recados, rápidos, sem mais delonga. Detalhes expostos dos sentimentos humanos, onde os diálogos são esteios centrais da obra de estréia do psicólogo e contista João Batista Ferreira, em "O doce vermelho das beterrabas", volume de contos publicado pele editora 7 letras.Não deixa de ser estranho chamar de "O doce vermelho das beterrabas" este livro curto, mas simpático, enternecido nos pequenos episódios domésticos da vida urbana, dando sentido a própria poética dos sentidos, no título impresso ao paladar e o ver. Mas os cinco sentidos demonstrados em cada conto, são expressados com o coração, que confunde a cada sentido convocado.O autor, participante de oficinas literárias acontecidas na Casa da Palavra, no velho casarão de Mário de Andrade, durante os anos 90, coordenadas por Charles Kiefer e Caio Fernando Abreu, estabelece ao mesmo tempo que dialoga com o leitor, a linguagem descritiva, transparente de cada parágrafo, enveredando em um ritmo frenético, afetuoso e realista.Do jogador de futebol manifestando seu pensar ao bater um importante pênalti ao encontro de dois amigos, um próspero, outro descrente da vida, e as situações que o amâgo do destino os reservou. O autor gaúcho envolve-se junto com o leitor, fazendo os personagens revelarem os ressentimentos de suas vidas, tratando as coisas humanas com sensibilidade e coração.Nessa reunião de 17 contos, João Batista explora com maestria a desenvoltura do diálogo entre os personagens e a conversa dos mesmos para com o ledor. São histórias que pegam assim, de repente, a atenção e terminam em atingir em cheio quem ler. E o que marca nas linhas escritas pelo contista é a comoção, o espanto do próprio autor, de seus personagens, dos seus leitores ao desempenho da dor, da decepção, dos propósitos e promessas cotidianamente humanas.Um livro seguro, cuja apresentação de Caio Fernando Abreu mostra a plasticidade que o autor chega, comparando à perfeição de Clarice Lispector. Escrito com carinho, o autor mostra os recursos que tencionam os sentidos, a descrição que serve a narração, o estilo livre, o ritmo das frases e dos diálogos. Tudo relacionado à fecundidade dos contistas brasileiros, e a editora 7 Letras acerta com este lançamento.Citando Manoel Hygino dos Santos: "O conto não privilegia o que nasce aqui ou ali. É universal, é brasileiro também, claro."