Thursday, November 16, 2006
Wednesday, November 15, 2006
uma espécie de céu que nos protege
"E então era como estar no centro de um filme, realizado em tempo real, um filme sem atores, que mostra a vida que queremos sem nenhuma edição. Um filme que movimenta e descongela as fotografias que, de outro modo, ficariam paralisadas para sempre. Um filme com as cenas no lugar certo, a música adequada, um ritmo envolvente. Neste filme, a atmosfera sugere que, lá fora e aqui dentro, logo acima dos nossos corpos, há uma espécie de céu que nos protege, uma espécie de céu que naturalmente se desprende do sonho que você me faz sonhar acordado".
Trecho do livro O Doce Vermelho das Beterrabas (7Letras). Disponível nos sites:
submarino.com.br , livrariasaraiva.com.br, livloyola.com.br, ciadoslivros.com.br
Trecho do livro O Doce Vermelho das Beterrabas (7Letras). Disponível nos sites:
submarino.com.br , livrariasaraiva.com.br, livloyola.com.br, ciadoslivros.com.br
Tuesday, November 14, 2006
Trecho de O Doce Vermelho das Beterrabas
A memória às vezes é também uma lente tortuosa, acentua detalhes insignificantes, acorda energias adormecidas, abre a alma para a inquietação e o desejo.
"Lançado semana passada na Esquina da Palavra, Doce vermelho das beterrabas (7Letras), de João Batista Ferreira, tem contos de vários períodos, alguns produzidos em oficina com Caio Fernando Abreu, que escreveu, a respeito dos contos de Ferreira: "Todos eles revelam uma profunda simpatia e rara sensibilidade para tratar das coisas humanas". No "meio da correria" para concluir dissertação de mestrado em psicologia, a respeito de violência moral, Ferreira planeja lançar outro livro de contos ano que vem e planeja mais um, de poesia. "Algumas pessoas, inclusive o Caio, viram nos meus textos certa aproximação com a poesia", argumenta. "Gosto de pensar que não estavam apenas sendo generosos".
Paulo Paniago , Caderno Pensar - Seção Livros & Leituras - Correio Braziliense 21.10.2006.
Sunday, November 12, 2006
Sentidos expressos nas palavras. Um relato missivo, de curtos momentos e esparsos pensamentos do cotidiano. Redigidos como recados, rápidos, sem mais delonga. Detalhes expostos dos sentimentos humanos, onde os diálogos são esteios centrais da obra de estréia do psicólogo e contista João Batista Ferreira, em "O doce vermelho das beterrabas", volume de contos publicado pele editora 7 letras.Não deixa de ser estranho chamar de "O doce vermelho das beterrabas" este livro curto, mas simpático, enternecido nos pequenos episódios domésticos da vida urbana, dando sentido a própria poética dos sentidos, no título impresso ao paladar e o ver. Mas os cinco sentidos demonstrados em cada conto, são expressados com o coração, que confunde a cada sentido convocado.O autor, participante de oficinas literárias acontecidas na Casa da Palavra, no velho casarão de Mário de Andrade, durante os anos 90, coordenadas por Charles Kiefer e Caio Fernando Abreu, estabelece ao mesmo tempo que dialoga com o leitor, a linguagem descritiva, transparente de cada parágrafo, enveredando em um ritmo frenético, afetuoso e realista.Do jogador de futebol manifestando seu pensar ao bater um importante pênalti ao encontro de dois amigos, um próspero, outro descrente da vida, e as situações que o amâgo do destino os reservou. O autor gaúcho envolve-se junto com o leitor, fazendo os personagens revelarem os ressentimentos de suas vidas, tratando as coisas humanas com sensibilidade e coração.Nessa reunião de 17 contos, João Batista explora com maestria a desenvoltura do diálogo entre os personagens e a conversa dos mesmos para com o ledor. São histórias que pegam assim, de repente, a atenção e terminam em atingir em cheio quem ler. E o que marca nas linhas escritas pelo contista é a comoção, o espanto do próprio autor, de seus personagens, dos seus leitores ao desempenho da dor, da decepção, dos propósitos e promessas cotidianamente humanas.Um livro seguro, cuja apresentação de Caio Fernando Abreu mostra a plasticidade que o autor chega, comparando à perfeição de Clarice Lispector. Escrito com carinho, o autor mostra os recursos que tencionam os sentidos, a descrição que serve a narração, o estilo livre, o ritmo das frases e dos diálogos. Tudo relacionado à fecundidade dos contistas brasileiros, e a editora 7 Letras acerta com este lançamento.Citando Manoel Hygino dos Santos: "O conto não privilegia o que nasce aqui ou ali. É universal, é brasileiro também, claro."
Cadorno Telles em http://www.leialivro.com.br/texto.php?uid=12109
Saturday, November 11, 2006
Resenha
O doce vermelho das beterrabas. Mônica Botelho Alvim
O livro de João Batista Ferreira inaugura uma poética dos sentidos, já expressa no título, quando reúne paladar e visão, partindo de uma imagem-objeto cotidiano, isto é, presente na "natureza". Pensar nisso me remete a Paul Cézanne. O pintor afirmava trabalhar com uma espécie de "percepção primordial" - que não faz distinção entre os sentidos - e que a separação de tato, olfato, visão, foi aprendida com a ciência do corpo humano. Para ele, aquilo que é vivido não é reencontrado ou construído a partir dos dados dos sentidos, mas, ao contrário, aquilo que é vivido se oferece como o centro de onde se irradiam os sentidos.
Podemos experimentar isso a partir de seu trabalho. As pinturas de Cézanne buscam trazer a totalidade da natureza tomando forma, nos provocam corporalmente, por inteiros, fazem, como afirmou Merleau-Ponty, com que não necessitemos de um "sentido muscular" para ter a volumetria do mundo, podendo, diante da obra, ver a profundidade e o aveludado.
Penso que a obra de arte tenha essa tarefa: provocar a corporeidade do espectador, reverberar, ser o centro a partir de onde se irradiem sentidos. Para Merleau-Ponty essa foi a genialidade de Cézanne, seu estilo de pintar tinha a capacidade de, mais que criar uma significação existencial para ele próprio (pintor), despertar as experiências por cujo meio elas seriam enraizadas em nossa vida (espectadores).
Voltemos ao doce vermelho das beterrabas, obra que também nos provoca e nos permite experimentar.
- Eram todos tão brancos - diz, acompanhando uma formiga perdida na toalha da mesa.
Mastigo outra beterraba. Mais doce que a anterior.
Meu irmão grita outra vez da janela.
Nosso pai geme no seu quarto.
Quando todos dormem, às vezes parece que escuto as beterrabas crescendo no escuro.
Nesse trecho do conto, vários sentidos se nos apresentam, são convocados: visão, tato, paladar, audição. Coração. Um de cada vez. Para o leitor, entretanto, não há vez a vez, mas uma complexidade. Podemos sentir o vermelho, saborear a forma arrendondada da beterraba, ver sua imagem no escuro, sentir medo. Cada frase convoca sentidos, que significam a próxima frase, que convoca sentidos e constrói significados. A brancura dos imaginários carneirinhos me faz sentir a maciez da seda, que se confunde com o vermelho dolorido e intenso, que surge do mastigar da beterraba, que se faz doce e retoma a suavidade da seda a partir da narrativa de João Batista, que toma outros sentidos para cada leitor.
- Alguém precisa tirar a poeira dos olhos abertos de nosso pai.
Ler isso me provocou. Fez-me fechar os olhos. Entregou-me por uns instantes à vertigem da escuridão. Como quando criança, descia entregue e extasiada uma enorme montanha russa.
Os contos colocam o leitor diante do inusitado, deslocando-o, provocando sentidos que nascem. Uma poética, criação de sentidos a partir do sentir.
"Falta apenas que uma destas mulheres cante, para uma voz humana diga, por palavras nossas de humanos, o que tão grandes coisas significam. E, tendo-o dito, olhe para nós em silêncio."
José Saramago, in Poética dos Cinco Sentidos, O Ouvido, Lisboa, Bertrand, 1979.
Mônica Botelho Alvim
Psicóloga clínica, professora no curso de psicologia da Universidade Católica de Brasília e diretora do Instituto de Gestalt -Terapia de Brasília. Doutoranda em Psicologia Clínica na UnB, onde pesquisa a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty e vem construindo um diálogo da Gestalt-terapia com a Arte e a Estética.
Psicóloga clínica, professora no curso de psicologia da Universidade Católica de Brasília e diretora do Instituto de Gestalt -Terapia de Brasília. Doutoranda em Psicologia Clínica na UnB, onde pesquisa a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty e vem construindo um diálogo da Gestalt-terapia com a Arte e a Estética.
O Doce Vermelho das Beterrabas
O livro O Doce Vermelho das Beterrabas, editado pela 7letras (www.7letras.com.br) está disponível nos sites da Submarino, Livraria Cultura, Saraiva, Loyola e no site da própria editora.